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Conversas ao chá! Bem-vindo, ao chá das 5!









(Imagens retiradas da internet)

Chá verde

  Hoje uma das comadres não compareceu ao chá das 5 por desilusão amorosa. É nossa amiga. Grande amiga, tem o nosso apoio mas hoje quer espaço. Assim o demos.
  Faltava algo, claro. Faltava ela como é habitual. O ar estava diferente, não havia aquela gargalhada de fundo fora do tempo. Faltava uma chávena na mesa, faltava a pessoa que é tão fã de chá verde como eu.
  Os borburinhos começaram, e por entre "coitada", "não é fácil", "já passei pelo mesmo", "não sei como vai reagir daqui para a frente", "foi muito tempo de namoro", o chás arrefeciam e eu no meu canto calada nem quis opinar.
  Não opinei, e fui chamada á atenção do porquê de eu não falar. Suspirei e disse "é a vida.". Não podia dizer outra coisa. Porque, é a vida. E não seria vida se fosse tudo como queremos e fácil. Eu já passei por isso, já estive na pele dela e sei o quão difícil é, mas perdemos a noção do "continua a viver", "és tão nova". Perdemos completamente o chão e achamos que é o fim da nossa vida. Achamos que na vida só podemos amar uma vez. É parvo, é infantil pensarmos assim mas sei que é o que ela pensa, não há que criticar, mas sabemos que mais tarde ou mais cedo vai cair na real e vai perceber que a vida continua, que amores existem sempre. Só temos que não proibir de eles entrarem na nossa vida. Ela vai perceber, tal como eu percebi.
  Eu continuava concentrada no meu chá, cabeça rebaixada e dando goles repetitivos no meu chá que para mim já nem sabia a nada por estar sempre concentrada no querer o fim da conversa.
  "Então? O que se passa contigo hoje?" perguntou uma das comadres que percebeu que eu nem estava ali. "Não se passa nada, estou bem como todos os outros dias.", respondi eu sorrindo, um sorriso vazio de como quem quer despachar aquela conversa. Por entre as cadeiras ouço uma espécie de pontapé. A minha cabeça continua rebaixada, olho pela parte de cima dos meus olhos em direção ao ruído e leio nas palavras de uma delas o nome do meu ex namorado. Dirijo o olhar para a outra que me questionou e vejo as bochechas a ficarem rosadas e a tentar focar-se no seu chá.
  O silêncio instalou-se na sala, e a comadre mais desinibida fez questão de pôr o ponto final na conversa. Está correto. Não podíamos ficar naquele clima. "Porque estamos nós num convívio a falar de coisas tristes? Ela precisa é de amigas que lhe façam ver que o mundo continua que ainda terá a pessoa certa." Foi o que pensei, continua ela, "Todas nós já tivemos um momento de fraqueza com um rapaz, umas mais outras menos mas tivemos.". Não consegui ficar calada, continuava a ouvir o "oh mas coitada". A palavra "coitada" já me estava a perfurar o cérebro. Já não conseguia ouvir mais uma única vez essa palavra. "Coitada? Coitada de quê? Ela precisa de amigas que a façam sorrir, não precisa de um ombro para chorar porque ela não pode chorar mais por uma pessoa que a deixou. Sim, eu já passei pelo mesmo, talvez com mais intensidade mas sei do que ela precisa. De sorrisos e alegrias.". Ficaram todas a olhar para mim, não tocaram no chá enquanto eu dava, finalmente, a minha opinião. Abanavam com a cabeça, franziam os olhos, encolhiam os ombros mas todas me deram razão.
   "Já olharam para mim? Para o meu sorriso diário que trago estampado no rosto? Sabem porquê? Porque ao fim de um ano, ao fim de conhecer as pessoas certas. Neste caso, os amigos certos. Eu consegui focar-me na beleza do meu sorriso, não na transparência das minhas lágrimas e consegui seguir a minha vida e encontrar o amor da minha vida.". A sala ganhou cor ao dizer estas palavras e todas elas perceberam que eu estava mesmo feliz.
  É repugnante e torna-se frustrante a ideia de não poder mostrar mais o quanto amamos por não conseguirmos gritar ao mundo. Ou então aquela falha de palavras por entre abraços e beijos e queríamos mostrar que essa pessoa é tudo, o nosso mundo e as únicas palavras que encontramos é "amo-te muito".
  É sufocante e bom ao mesmo tempo todo o sentimento que ganhamos por uma pessoa, principalmente tão diferente de nós. E não me refiro á cor. O facto de ser preto e eu branca faz de nós a dupla completa que se torna somente um só. Preto no branco, é nosso lema. Mas não é isso que nos torna diferentes, não. É a personalidade. E a capacidade que temos de um ser 8 e o outro 80 e de nos compreendermos tão bem mesmo com as divergências. É amor. É verdadeiro amor e digo isto de sorriso de orelha a orelha que me faz feliz só de pensar que o tenho e poder dizer.
  Apaixono-me por cada defeito dele todos os dias, e tenho a certeza que assim continuará.
  É bom poder dizer o que sentimos num encontro com amigas. Mas mesmo tudo que sentimos. Acreditem. É ótimo.
  Estranho é apenas dizermos que amamos essa pessoa e no momento em que o afirmamos sentimos mil e uma coisa e vermos o nosso mundo a vaguear numa corrente de ar tão agradável que nos puxa um sorriso contagiante.